A CEGONHA X


Daquele lago á beira ha muito tempo, existe
Em meio á passarada alegre, o vulto lindo
De uma cegonha triste, immensamente triste,
A contemplar o azul nas aguas reflectindo.

Parece que padece e vive ali carpindo
Um mal, um grande mal, um mal que não resiste
O seu corpinho tenro... E, em canticos lhe rindo.
A passarada em tôrno ao seu tormento assiste!

Ella sente talvez um martyrio mendonho...
E não clama e não chora e não falla e não diz
Qual a causa da dôr que a tornou infeliz!

Eu que vivo tambem pensativo e tristonho,
Quando a contemplo assim meditativa e calma,
Chego a crer que me vive uma cegonha na alma.

Bahia, Setembro, 928



 

CGM-A cegonha

Manuscrito (CGM)  do Caderno Lágrimas (f.23r).

O título encontra-se centralizado na linha 1, após há uma possível marca de conferência: “x” escrito a lápis.

À linha 20, consta “Bahia, Setembro, 928”.

 

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CGM- A cegonha- transcrição com links


A CEGONHA x

Daquele lago à beira , muito tempo existe
Em meio à passarada alegre, o vulto lindo
De uma cegonha triste, imensamente triste,
A contemplar o azul nas águas refletindo.

Parece que padece e vive ali, carpindo
Um mal, um grande mal, um mal que não resiste
O seu corpinho tenro... E, em cânticos lhe rindo!
A passarada em torno ao seu tormento assiste!

Ela sente, talvez, um martírio medonho...
E não clama, e não chora e não fala e não diz
Qual a causa da dor que a tornou infeliz!

Eu que vivo também pensativo e tristonho,
Quando a contemplo assim meditativa e calma
Chego a crer que me vive uma cegonha na alma.

Bahia, Setembro, 928

CRITÉRIOS DE EDIÇÃO

São mantidas as interpolações, os lapsos do autor, a ortografia, a acentuação e registram-se todas as correções, emendas, rasuras e acréscimos, com a utilização (quando necessários) dos seguintes símbolos:

{ } seguimento riscado, cancelado;

{†} seguimento ilegível;

{†} / \ segmento ilegível substituído por outro legível na relação {ilegível} /legível\;

{ } / \ substituição por sobreposição, na relação {substituído} /substituto\;

{ } [↑] riscado e substituído por outro na entrelinha superior;

[↑] acréscimo na entrelinha superior;

[→] acréscimo na margem na margem direita;

[←] acréscimo na margem na margem esquerda;

[↑{ }] acréscimo na entrelinha superior riscado.

Na descrição física, para a identificação dos testemunhos dos poemas, optou-se por seguir os critérios estabelecidos por Barreiros (2009) para identificação do código do texto no acervo e por Boaventura (2018) para a identificação do código na edição:

Para a identificação dos testemunhos na descrição e aparato crítico-genético, estabeleceu-se o seguinte código:   

a) quando o título do poema se compõe de apenas uma palavra utilizou-se, em maiúsculo, a primeira letra das duas primeiras sílabas. Exemplo: Junho torna-se JN;  

b) quando se compõe de mais de uma palavra, utilizaram-se as iniciais das duas primeiras palavras em maiúsculo. Exemplo: Volta, querida torna-se VQ;  

c) d) quando há mais de um testemunho em livro ou em manuscrito, acrescentou-se um número arábico em ordem crescente para facilitar a identificação.   

d) para os textos com mais de um testemunho, após as letras que identificam o título do soneto, acrescentam-se as letras L para livro, M para manuscrito, D para datiloscrito, J para jornal, R para recorte, que, quando não identificado, é seguido por um ñ. Exemplo: VQL. 

Ao adequar a transcrição semidiplomática para a hiperedição, esses símbolos foram adaptados para marcação em tags através da codificação HTML, como por exemplo, para sinalizar parte do texto riscado e substituído na entrelinha superior, substitui-se o símbolo{ } [↑] pelas tags  <s> </s>, que simula o segmento riscado, e <sup> </sup> que simula o acréscimo na entrelinha superior, resultando na seguinte visualização por parte do leitor usuário: segmento riscado  e  acréscimo na entrelinha superior.

Quando seu vulto- transcrição com links




QUANDO SEU VULTO...


Tento escrever um quadro mui pomposo
E lembro um rio, uma casinha, um monte,
E se afogando, o sol tuberculoso,
Em vômitos de sangue, no horizonte.

Debalde. Então um quannto adro mais airoso
Tento encontrar na história de uma fonte.
Inda debalde... E o esforço tão penoso
Já me fatiga e me enrubesce a fronte.

Desiludido , deixo a pena a um lado.
Mas quando á mente vem me aparecendo
O vulto dela, ingênuo , e delicado,

Feito de graça e de simplicidade,
Sobre o papel, em minha mão, tremendo,
A pena corre com facilidade.

Bahia, Abril de 1928

POESIAS

  • A cegonha
  • A culpa
  • A dôr maior
  • A FFF
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esquecida

                 ESQUECIDA…


Ella talvez não me conheça mais

Quando me vir… Depois de tantos annos,

Se esquecem risos, não se lembram ais…

Tudo parece á luz de outros enganos…


Os caprichos do tempo são fataes…

Glória, desgraças. Crenças, desenganos,

Tudo morre… Depois de tantos annos,

Ella talvez não me conheça mais…


Ella esqueceu de tudo… Ella esqueceu

Que, com o zelo maior de minha vida,

Guardo a cartinha que ella me escreveu…


No seu modo de ver, tudo acabou…

E eu, quando, a vir, assim, tão esquecida,

Lembrarei tudo que entre nós passou…

ESQUECIDA

Trata-se de um manuscrito…..

ESQUECIDA…

 

Ella talvez não me conheça mais

Quando me vir… Depois de tantos annos,

Se esquecem risos, não se lembram ais…

Tudo parece á luz de outros enganos…

Os caprichos do tempo são fataes…

Glória, desgraças. Crenças, desenganos,

Tudo morre… Depois de tantos annos,

Ella talvez não me conheça mais…

Ella esqueceu de tudo… Ella esqueceu

Que, com o zelo maior de minha vida,

Guardo a cartinha que ella me escreveu…

No seu modo de ver, tudo acabou…

E eu, quando, a vir, assim, tão esquecida,

Lembrarei tudo que entre nós passou…

EQL- ESQUECIDA- EDIÇÃO LINEAR

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EXPLORE A EDIÇÃO POR: FORMA POÉTICA

Manteve-se a classificação (poesias) utilizada pelo autor na divisão das formas poéticas no texto original. 

15 de abril- transcrição com links

15A

MUNDO NOVO

15 DE ABRIL

Um ano a mais, na vida, me aparece ……
Dos passados, porém , tão diferente !…
Ai! como tudo, a mim, desaparece……
Como tudo se acaba de repente…

O sonho róseo , belo, refulgente,
Que alcançar eu julguei que inda pudesse,
Esqueceu-me… deixou-me, indiferente
Somente a dor é que me não esquece…

Quinze de abril, tão triste! Vai te embora…
A minha mocidade, vai levando
Com o sobejo do amor que eu tive outrora

Enquanto eu vou, com lágrimas no rosto,
Pelos montes da vida, carregando
O madeiro pesado de um desgosto!…

EULÁLIO MOTTA

Bahia, 15-4-927.

Pensativa- transcrição com links



32 ILLUSÕES QUE PASSARAM


PENSATIVA

Há um quer que seja de anormal, querida,
A machucar as rosas de tu’alma
Pois eu jamais te vi pensar na vida
E estavas ontem pensativa e calma...

Do nosso amor está tão verde a palma,
Porque pareces uma arrependida?!
Sem ter a luz do riso de tu’alma,
Minh’alma é pobre, triste, dolorida...

Teu sofrimento faz-me vir o pranto...
Se sobre a dor teu coração debruça,
Meu coração também também sente e soluça...

Virgem! te peço meu romance santo:
P’ra que feliz minh’alma triste viva,
Não fiques nunca triste e pensativa...

Quando seu vulto- transcrição com links




QUANDO SEU VULTO...


vômitos

quannto adro mais airoso

E o esforço tão penoso

Bahia, Abril de 1928

CRÍTERIOS DE EDIÇÃO

{ } seguimento riscado, cancelado;

{†} seguimento ilegível;

{†} / \ segmento ilegível substituído por outro legível na relação {ilegível} /legível\;

{ } / \ substituição por sobreposição, na relação {substituído} /substituto\;

{ } [↑] riscado e substituído por outro na entrelinha superior;

[↑] acréscimo na entrelinha superior;

[→] acréscimo na margem na margem direita;

[←] acréscimo na margem na margem esquerda;

[↑{ }] acréscimo na entrelinha superior riscado;

[↑{†}] acréscimo na entrelinha superior ilegível;

[↑{ }/ \] acréscimo na entrelinha superior riscado e substituído por outro na sequência;

[↑{†} / \] acréscimo na entrelinha superior ilegível e substituído por outro na sequência;

[*↓] parte do texto localizada à margem inferior indicada pelo autor através de seta, linha ou números remissivos;

[*(f. ou p.)] parte do texto localizada em outro fólio ou página indicada pelo autor a partir de números e letras remissivos ou anotações. Nesses casos, o número do fólio ou da página aparece entre parênteses;

Vale ressaltar que ao adequar a transcrição semidiplomática para a hiperedição, esses símbolos foram adaptados para marcação em tags através da codificação HTML, como por exemplo, para sinalizar parte do texto riscado e substituído na entrelinha superior, substitui-se o símbolo{ } [↑] pelas tags  <s> </s>, que simula o segmento riscado, e <sup> </sup> que simula o acréscimo na entrelinha superior, resultando na seguinte visualização por parte do leitor usuário: segmento riscado  e  acréscimo na entrelinha superior.

A dôr maior- transcrição com links



24 ILLUSÕES QUE PASSARAM


A DÔR MAIOR

Ao jovem poeta Júlio Vieira de Sá


Tenho sofrido muita dor pungente
Nestes bem poucos anos que hei vivido,
A dor de ser tão triste e tão descrente!
E ser, tão cedo, tão desiludido !

A dor de recordar constantemente
O meu amor ha tanto perecido...
E esta outra dor comum a toda gente:
A dor que a gente tem de ter nascido!

Mas entre as dores todas que sofri,
A dor maior, a dor que mais senti,
A que mais me feriu, que mais me doeu,

Foi a profunda a desmedida, dor
De eu ter perdido um dia aquela flor:
- A sempre-viva que Didi me deu!

A você, mais uma vez- transcrição com links


A VOCÊ, MAIS UMA VEZ.

Ora, ora, ora, creatura criatura!
Eu penso que você
já está convencidíssima
de que
não deve continuar assim
sem pôr fim
a esta zanga, e você continua!
pu...u...u...xa! Que índole a sua!
Mas eu sei porque é que você continua aborrecida
tiririca, da vida:
É só porque nos versos lhe chamei de feia.
'Oxente!' eu fiz aquilo foi pilheriando.
Simplesmente brincando
que gosto muito de brincar com melindrosas
Pode crer:
Foi simplesmente uma pilheria minha.
Você até que não é feia, não!
Perdão!
É, na verdade, muito bonitinha.
Uma beleza, uma Zezé Leone...
Quando através dos fios de um telefone...

Bahia, Novembro de 928.

Sorrir... cantar...- transcrição com links


SORRIR... CANTAR...

Ao espirito inteligente de Carlos Barretto

Quero sorrir... Sorrir é minha sina...
porém sorrir p’ra não mostrar o esboço
Desta aflição terrível, assassina,
Que me envenena o coração moço...

Quero cantar, cantar um canto lindo...
porém cantar para prender meus ais...
P’ra não deixar o meu desgosto infindo
Na dor de um pranto se estampar jamais...

Quero viver sorrindo com desdém...
Cantando eu quero o meu viver passar...
Sem ter, embora o mel que o riso tem...
Sem nunca ter o gosto do cantar...

E assim, da dor hei de transpor os flancos...
Cantando um riso de desdém, gelado...
Embora eu morra de cabelos brancos,
Sem nunca rir, sem nunca ter cantado...

EULÁLIO MOTTA

Bahia, 15-8-927

EQM- Esquecida- transcrição com links


ESQUECIDA

Ela talvez não me conheça mais
Quando me vir... Depois de tantos anos,
Se esquecem risos, não se lembram ais...
Tudo parece à luz de outros enganos...

Os caprichos do tempo são fatais...
Glória, desgraças. Crenças, desenganos,
Tudo morre... Depois de tantos anos,
Ela talvez não me conheça mais...

Ela esqueceu de tudo... Ela esqueceu
Que, com o zelo maior de minha vida,
Guardo a cartinha que Ela me escreveu...

No seu modo de ver, tudo acabou...
E eu, quando, a vir, assim, tão esquecida,
Lembrarei tudo que entre nós passou...

(Publicado na Renascença)

Bahia, 20-09-927

EQL-Esquecida- transcrição com links



      EULALIO MOTTA    21



ESQUECIDA


Ela talvez não me conheça mais
Quando me vir... Depois de tantos anos,
Se esquecem risos, não se lembram ais,
Tudo parece à luz de outros enganos...

Os caprichos do tempo são fatais...
Glórias, desgraças. crenças, desenganos,
Tudo morre... Depois de tantos anos,
Ela talvez não me conheça mais...

Ela esqueceu de tudo... Ela esqueceu
Que, com o zelo maior de minha vida,
Guardo a cartinha que Ela me escreveu...

No seu modo de ver, tudo acabou...
E eu, quando a vir, assim, tão esquecida,
Lembrarei tudo que entre nós passou...



CGL-A cegonha- transcrição com links


34 ILUSÕES QUE PASSARM...


A CEGONHA

Ao meu distinto e talentoso amigo Antonio da Silva Garcia


Daquele lago à beira, muito tempo existe
Em meio à passarada alegre, o vulto lindo
De uma cegonha triste, imensamente triste,
A contemplar o azul nas águas refletindo.

Parece que padece e vive ali, carpindo
Um mal, um grande mal, um mal que não resiste
O seu corpinho tenro... E, em cânticos lhe rindo!
A passarada em torno ao seu tormento assiste!

Ella sente, talvez, um martírio medonho...
E não clama e não chora e não fala e não diz
Qual a causa da dor que a tornou infeliz!

Eu que vivo também, pensativo e tristonho,
Quando a contemplo assim, meditativa e calma,
Chego a crer que me vive uma cegonha na alma.

EXPLORE A EDIÇÃO POR: TEXTOS POLITESTEMUNHAIS

Poemas que possuem mais de um registro de escrita.

BCM- Balladilha do canto transcrição com links


BALLADILHA DO CANTO

A cigarra canta tanto...
Não se cansa de cantar!
Mas... quem sabe o que ela sente ! ?!

Talvez cante simplesmente
Porque não sabe chorar.

Eu vivo como a cigarra
Que vive sempre a cantar,
Simplesmente, unicamente,
Porque não pode chorar.

E como eu, como a cigarra,
Muita gente anda a cantar,
Simplesmente, unicamente
Porque não pode chorar!


Bahia, Dezembro de 928.


BCRÑ- Balladilha do canto transcrição com links





BALLADILHA DO CANTO

A cigarra canta tanto...
Não se cansa de cantar!
Mas... quem sabe o que ela sente?
Talvez cante simplesmente
Porque não sabe chorar!

Eu vivo como a cigarra
Que vive sempre a cantar,
Simplesmente, unicamente
Porque não pode chorar!

E como eu, como a cigarra,
Muita gente anda a cantar,
Simplesmente, unicamente
Porque não pode chorar!


EULÁLIO MOTTA


VT- Vi-te pequena...- transcrição com links

Hoje te vi na rua...Alguém passava
Contigo e eu vi-te...Que desilusão!


VI-TE PEQUENA...

A uma melindrosa

Vi-te pequena... Minha noiva, então,
Eu brincando contigo te chamava...
Querubim! ‘ Flor do ceo ! Meu coração!
Noutro tempo era assim que eu te falava.

Passaram anos. Uma tarde eu estava
Numa certa avenida, á espera, em vão
De um bond que já muito demorava,
Quando surgiste á minha direção.

Conheci-te de longe... Todavia,
Por mim passaste como quem não via
Meu popre olhar que procurava o teu...

Sou estudante pobre... Talvez isto
Bastante fosse p’ra não estava teres visto
Este que muitos beijos já te deu...

Bª, Junho 928

Minha canção de teus olhos...- transcrição com links


MINHA CANÇÃO DE TEUS OLHOS...


... É preciso que eu não cale
... Que não posso resistir...
... É preciso que eu te fale
... Sobre os teus olhos, Nadir

Teus olhos, minha querida,
São meus dois lindos faróis...
Dois astros na minha vida...
Duas estrelas, dois sois...

Uma vez os vi chorando.
Como achei lindos, meu bem!
Nossa Senhora rezando
Tão lindos olhos não têm

Canções, cantigas, auroras
E voejos de colibris,
nos teus olhos – se choras...
nos teus olhos – se ris...

Meu sofrimento , minoras...
até me fazes feliz
Com teus olhos- quando choras...
Com teus olhos- quando ris...

Minha vida- todas agruras
Todas maguas, todo abrolhos,
É toda cautos, doçuras
Quando a iluminam teus olhos!

Minha existência- tão fria,
Cheia de tantas escolhas,
Mais desgraçada seria
Se eu nunca visse teus olhos...

Que nunca feches, querida,
Teus lindos olhos aos meus...
Que dos meus olhos a vida
Vive na vida dos teus!

Bª, março de 929.


SONETOS

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